Friday, February 23, 2007

Todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros



Será que os distribuidores de filme realmente acham que o público é estúpido?

Só pode ser.

Afinal, qual a razão para traduzir Indigènes, que ao pé da letra significa indígenas, mas, nesse caso serve para nativos, como Dias de Glória?

Ai, deixa para lá.

O filme é uma co-produção entre Argélia, Bélgica, França e Marrocos e tem quatro personagens principais: Saïd, Abdelkader, Messaoud e Yassir. Eles fazem parte do contingente de 130 mil nativos das colônias francesas do Magreb e da África negra que se juntaram às tropas da metrópole durante a Segunda Guerra Mundial. Passaram pela Itália, pelo Vale do Reno e pela Alsácia, entre outras batalhas, cada um com um objetivo, do saque à fuga da probreza, passando pela necessidade de reconhecimento como igual.

Só que todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.

É triste, muito triste. É discriminação o tempo todo, não têm as folgas que os os franceses têm, nem recebem as mesmas promoções. São usados como bucha de canhão e humilhados constantemente. Mas acreditam em defender a pátria-mãe (!) e cantam A Marselhesa com orgulho. Ao mesmo tempo, sonham com autonomia e Abdelkader, o único que sabe ler e escrever, é politizado e quer os mesmos direitos que os franceses.

L'égalité et la fraternité ne sont pas pour tous et la liberté vai ser arrancada à força anos mais tarde. E é aí que a coisa fica ainda mais feia, pois os ex-combatentes indigènes perdem o direito às pensões militares (que já eram menores que as dos soldados franceses) quando as colônias se tornaram independentes.

Em 2002 foi aprovada uma lei/sentença/não sei o nome certo pela qual os soldados deveriam receber todas as pensões retroativamente. Lá como cá, o governo recorreu e até 2006, quando o filme foi finalizado, ninguém tinha recebido um centavo.

No site oficial do filme tem mais informações, em inglês e francês.

Curiosidade: tanto nesse filme como em A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima as mulheres, quando estão maquiadas, estão sempre de batom vermelhão. O máximo.

Cena sensacional: um político/militar francês pede ao coronel encarregado da tropa uma punição exemplar para Abdelkader, que se meteu em uma confusão com um legítimo fils de la patrie. O coronel olha para o sujeito e pergunta qual era mesmo o posto que ele ocupava no governo de Vichy antes de debandar na última hora para o lado do de Gaulle.

Indigènes está concorrendo ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Vai perder feio para O Labirinto do Fauno, que é tudo e mais alguma coisa.

Os cinco leitores deste bloguinho devem achar que a Maharani só vê filmes de guerra. Não é assim, foi coincidência.

Esse final de semana tem O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland), mas pô, é o que chamo de quase-história. E o Mr. Engineer quer muito ver, também.

4 Comments:

Blogger Denise Arcoverde said...

Raquel, você é quase minha alma g~ema em termos de cinema (e moda, pelo jeito hehehehe), estou correndo, porque preciso trabalhar, mas dei uma lida rápida e concordo com tudinho, tudinho que você escreve. A começar com Barat que é quase unanimidade e eu detesto, pelas mesmas razões suas. Depois volto pra comentar isso melhor.

Queria mesmo era agradecer a sua super particiopação lá na nossa muvuca virtual de ontem, foi ótima!

Beijão e vamos fazer outras dessas :-)

1:09 PM  
Anonymous Anonymous said...

Raquel,
Acabei de ler os teus comentários na Denise. Morri de rir com alguns. :-)

Off topic:
Você recebeu o meu email com o link do artigo?
bjs

2:04 PM  
Blogger A Dona do Bloguinho said...

This comment has been removed by the author.

5:17 PM  
Blogger A Dona do Bloguinho said...

Denise,

que isso, eu que me diverti horrores. Como disse, sempre vejo o Oscar sem ninguém para comentar, achei o máximo toda aquela bagunça! iBest de melhor balaco bloguístico de 2007!

Realmente, detestei Borat. Não tem santo que me convença que aquilo tem algum mérito.

Quanto à moda, sou uma chique frustrada. A vida ainda não me deu dinheiro suficiente para meu exterior ser tão lindo e elegante quanto meu interior. :D :p

Cris,

foi divertidíssimo! O tempo passou bem mais rápido, falamos muitas bobagens. :)

Recebi seu email sim. É que primeiro fui caçar o "Monsieur Caloche" para download. Estou lendo ele primeiro (não tive tempo esses últimos dias) e aí passo para o seu artigo, assim não fico muito perdida!

Bjs bjs bjs

5:22 PM  

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