We few, we happy few, we band of brothers
Não é que a Maharani não goste do Clint Eastwood. Ao contrário, ele se tornou um excelente ator em determinados papéis, dirige bem, tem faro para reunir bom elenco. Mas é que no fundo, bem lá no fundo, seus filmes não têm nada de polêmicos ou inovadores e são de um conservadorismo atroz.
Então, em pleno reinado de Momo, lá foi a Maharani encarar A Conquista da Honra (Flags of Our Fathers) e Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima). Um atrás do outro, não que o primeiro complemente o segundo ou vice-versa; eles funcionam muito bem sozinhos. Mas para aproveitar que os dois estavam passando no mesmo cinema.
Quem já leu as sinopses e críticas nos jornais sabe que os filmes tratam da batalha de Iwo Jima, durante a Segunda Guerra Mundial. "Versão americana" em A Conquista da Honra (ô tradução péssima!) e "versão japonesa" em Cartas de Iwo Jima. Ambas carecem de contexto. Para os envolvidos é fato histórico de grande magnitude, para boa parte do resto do mundo foi só mais uma batalha durante a Segunda Guerra Mundial. Dois minutos de prólogo e mais dois de epílogo teriam ajudado muito, principalmente se lembrassem aos espectadores que foi em Iwo Jima que os americanos viram como seria duríssimo invadir o Japão, com pesadas perdas materiais e humanas em ambos os lados, e que a luta na ilha é sempre citada como uma das razões para a bomba de Hiroshima.
Mas ninguém quer lembrar da bomba, né? Até porque os historiadores podem achar uma justificativa para Hiroshima, mas Nagasaki não tem desculpa.
Cinema de guerra americano tem uma coisa interessante, a Segunda Guerra Mundial é sempre a guerra. A Guerra da Secessão é muito particular e de impacto relativo no resto do mundo, a participação norte-americana na Primeira Guerra Mundial só começa em 1917 e teve interesses mais econômicos que patrióticos, mas a Segunda Guerra Mundial é a guerra dos Estados Unidos. Afinal, chegaram e viraram o jogo, salvaram a pele dos franceses, bateram Hitler (mas não vamos jamais nos esquecer dos russos na frente oriental) e viraram heróis, consagrando de vez o país como superpotência. A Guerra da Coréia já estava "contaminada" pela paranóia da Guerra Fria, o Vietnã foi o fracasso que se sabe, das invasões do Reagan ninguém fala e vamos deixar as duas guerras do Iraque para outro dia.
E isso acaba se traduzindo no cinema. Os filmes americanos sobre a Segunda Guerra Mundial, em geral, são imbuídos de um grande espírito nacionalista (que eu não critico) e embalados em toda uma retórica de honra e camaradagem que o Stephen Ambrose sacou muito bem quando tirou do Henrique V o título do seu Band of Brothers.
We few, we happy few, we band of brothers;
For he to-day that sheds his blood with me
Shall be my brother; be he ne'er so vile,
Ih, me perdi. Bom, mas esse band of brothers spirit, por assim dizer, está presente nos dois filmes, mais no Conquista da Honra, obviamente. Não tem um sargento mau, cretino e pequeno, ou militares de mente estreita, ou desertores, ou covardes, como em Cartas de Iwo Jima. A trama é muito picada, cheia de flashbacks. Vai e volta entre o que acontece na ilha e o tour promocional de três dos soldados que levantaram a bandeira americana no topo do Monte Suribachi, a culpa deles por não estar no front e, no meio de tudo isso, depoimentos ao narrador, que representa o filho de um dos sobreviventes e escreveu o livro Flags of Our Fathers. São várias tramas interligadas e no final nenhuma delas é bem contada.
O elenco é bom (impressionante como mesmo o ator mais fraquinho dá um bom soldado da Segunda Guerra Mundial) e os coadjuvantes excelentes. O melhor mesmo é o Adam Beach, que faz Ira Hayes, índio Pima que sofre PSTD (nem sabiam o que era na época) e se torna alcóolatra depois do conflito. Diga-se de passagem, tem uma música ótima sobre ele, The Ballad of Ira Hayes que dá para ouvir com o Bobby Dylan ou na voz do Johnny Cash.
Já no Cartas de Iwo Jima tem o Ken Watanabe, que é tudo. Pensava que ele era o ator principal do filme, mas na verdade é Kazunari Ninomyia, que vive Saigo, um soldado que só quer saber de voltar para a família e sofre horrores na ilha vulcânica, com água imprópria para o consumo e praias sulfurosas cheirando permanentemente a enxofre. Ele é aquele personagem meio engraçado, mais normal, que está ali para ganhar a simpatia do público e consegue porque o ator é bom e você deixa de lado o fato que está sendo manipulado. O detalhe é que fica implícito que o general Kuribayashi é um grande estrategista, muito diferente dos outros obtusos oficiais japoneses, devido a uma temporada que passou em Washington.
Mr. Engineer viajou e não viu, mas ia ficar louco com o cavalo do Barão Nishi (Tsuyoshi Ihara). E ia ficar furioso com o Clint por causa do fim do cavalo.
Várias críticas em jornais americanos e brasileiros (sempre imagino se os que escrevem aqui dão uma olhada no que disseram os de lá) eram sobre como o Eastwood desconstrói o mito do herói com os dois filmes. Eu discordo. Toda essa suposta desconstrução nada mais é do que uma maneira de reforçar o mito. Afinal, tem coisa mais nobre e honrada do que não se achar nobre e honrado e deixar os louros para os companheiros? E também não vejo o Clint fazendo um libelo contra a inutilidade da guerra; ao contrário, apesar dele realmente questionar a exploração da imagem do soldado comum pelo governo (e o faz mal), fica claro, claríssimo, que toda aquela carnificina sem sentido é legitimada por um fim maior.
A fotografia é lindíssima, a reconstituição histórica muito boa. Tem muita violência e sangue e pessoas assustadinhas como a Maharani fecham os olhos duas ou três vezes.
Agora, sinceramente, depois do Spielberg e o começo do Soldado Ryan com aqueles 35 minutos de desembarque na Normandia, não dá para o diretor que for filmar outra cena similar de soldados na praia sendo destroçados por quem está entrincheirado em terra. O roteiro pede a imagem, só que a comparação é implacável e todos perdem feio, inclusive Dirty Harry.
Ah, sim. Muitas cenas melodramáticas e clichés, além de um de um péssimo uso de trilha sonora instrumental.
Bonequinho sentado na poltrona olhando e é isso.
5 Comments:
oi Raquel, gostei de ter assistido ao Oscar contigo...
só discordo quanto ao Clint, mas isto é assunto pra um post...
abração
Serbão,
também me diverti. :)
Quanto ao Clint, depois que que você assistir cada filme, me diz o que achou. :)
Bjs
Ho ho ho, sou lerdinha, agora aue vi que é Serbão EASTWOOD.
Êêêêêêêê!
Good post.
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