Solidão de gente grande
Determinadas traduções de títulos de filmes são bizarras, mas algumas são mais bizarras que outros. Por exemplo, Little Children, que em português virou Pecados Íntimos.
Mas deixa para lá.
Resumindo, em um subúrbio daqueles bem bonitinhos americanos, Kate Winslet vive sufocada pela vidinha de soccer mom e começa um caso com o vizinho gostosão, que também se sente preso à rotina de pai que fica em casa cuidando do filho enquanto a mulher é documentarista. Há ainda o amigo que perdeu o emprego de policial e, conseqüentemente, o fator central na definição de sua identidade. No fundo, é uma história contada com alguma freqüência no cinema americano: pessoas com um padrão de vida mais que razóavel, que estão extremamente insatisfeitas e se agarram não à concretização de uma mudança, mas à possibilidade de mudança, à chance de dar uma sacudida na vida, mesmo que no final não tenham coragem e tudo volte ao que era antes.
Nesse caso tem um diferencial, que é a presença de um pedófilo na vizinhança e que serve de catalizador para vários momentos cruciais.
A trama não é ruim, só não é nova, porque essa temática de estagnação/opressão pelo cotidiano é comum a vários filmes, inclusive Beleza Americana e As Horas (tem coisa mais angustiante que a situação da personagem da Julianne Moore?). E embora eu conheça muito pouco do american way of life dos suburbs gringos, ainda acho que Tempestade de Gelo, além de ser disparado o melhor filme do Ang Lee, é o que traduz melhor essa sensação de vazio que perpassa a vida das pessoas - ou como eu chamo, aquela dor que mistura fracasso, tempo passando e vazio no peito com a vontade de chutar o pau da barraca.
O bom é que os atores são maravilhosos. Todos eles estão muito bem (gostei demais da atriz que faz mão do pedófilo, Phyllis Somerville, e do Noah Emmerich, o ex-policial). Mas quem manda mesmo é a Kate Winslet. A mulher é fantástica. Tem que ter muuuuita coragem para aparecer em cenas de sexo sem dublê: as estrias (visíveis) e os seios um pouco caídos(de quem já teve dois filhos) estão lá, sem retoques. Cada cena dela é espetacular, especialmente aquela na qual a personagem participa de um clube do livro e explica para as outras mulheres as razões por trás dos atos de Emma Bovary em Madame Bovary - ela é, naquele momento, a própria.
Aliás, porque não tem clube do livro por essas bandas?
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